segunda-feira, 14 de maio de 2018

Um olhar sobre a conferência em parentalidade

Como profissional de saúde da área infantil não posso deixar de falar (e escrever) sobre o evento que aconteceu no passado sábado, aqui no Funchal com o nome "Pais à Maneira".


Iniciativa do Diário de Notícias da Madeira, contou com a presença de algumas personalidades ligadas às crianças e às famílias nos momentos difíceis. Todas aquelas pessoas que estão na linha da frente quando os problemas tocam às famílias portuguesas, e que têm profissões que preferíamos que não existissem pois nascem para encontrar soluções para problemas que não queremos saber que existem.

Não é por acaso que estava presente a criadora da 1ª pós-graduação em Parentalidade e Educação em Portugal (não escrevi Positiva porque há pessoas que acham que serve para ensinar a dizer que sim mais vezes aos miúdos). É mais ou menos como comprar um telemóvel da Apple e achar que ele é de comer.... santa paciência.

Não é também por acaso que estavam 3 psicólogas, uma delas ligada à utilização de tecnologias na infância que ainda foi questionada por um interveniente no sentido dos tablets não serem maus em tudo, pois têm aplicações muito didáticas. "Sim, já agora eu tirava-o da escola, afinal ele tem as aplicações para aprender a ler!!". Ela não respondeu isso, mas podia... Claramente ninguém ali disse que a tecnologia tem de ser banida da sociedade, mas usar isso como forma de ter crianças paradas e que não incomodam em salas de espera, restaurantes, jantares, convívios tem de acabar urgente.

Também não será por acaso que estava presente uma advogada que ensina as famílias a gerir conflitos entre irmãos. Acima de tudo a sociedade tem de parar de achar que os conflitos constantes entre irmãos são coisas normais e faz parte do crescimento. Sim, se não forem constantes e não prejudicarem a dinâmica familiar. Surgem em famílias em que os próprios adultos não têm as suas necessidades supridas e nem sabem o que é autorregulação, quanto mais ensinar aos filhos...

Ainda foi um humorista da televisão dizer que as filhas não fazem birras. Esta parte não era para rir. Foi a única coisa séria que ele disse. Ninguém se riu. Porque parentalidade é perceber que uma criança com menos de 3 anos não tem ferramentas, conhecimentos nem capacidade de se autorregular. E que apenas um adulto seguro e feliz consegue ensinar isso. Ninguém se riu porque a maior parte das pessoas que lá estavam já sabe isso.


Foi um evento fantástico, criado por pessoas simples para pessoas que não têm vergonha de assumir que há muito a trabalhar nas famílias, nas escolas, nos consultórios, nos restaurantes, no carro, no avião, em cada um de nós.


Obrigada Diário de Notícias da Madeira! Keep up with the good work!


catarina cortez | odontopediatria





quinta-feira, 10 de maio de 2018

As crianças sensitivas

Há seres humanos com sensibilidade emocional aumentada. Esta condição foi oficialmente identificada em 1991 pela psicóloga Elaine Aron. 

Elaine descobriu que 15 a 20% da população pode ser classificada como sensitiva. Chegou a propor que os cérebros destas pessoas processam informações sensoriais e regulam as emoções de forma diferente.

Os sensitivos, ou empatas, são mais sensíveis aos sons, às sensações corporais e às texturas. Sentem-se verdadeiramente incomodados quando têm que se expor fisicamente. Os sensitivos detestam o  médico e o dentista! E apanham rapidamente quem lhes tenta "camuflar" a verdade.

A boca é algo muito íntimo para o ser humano. Não será por acaso que é a primeira forma utilizada pelo bebé para explorar o mundo que o rodeia. Desde que nasce até aos primeiros anos de vida a criança lê o mundo através da sua boca, testando tudo com os lábios, os dentes e a língua. Todos os objetos em seu redor são imediatamente dirigidos à cavidade oral, como que se precisassem de passar pela aprovação das papilas gustativas e das terminações nervosas linguais.

As crianças sensitivas passam o tempo com um dedo ou a mão na boca. E geralmente não é para chuchar. Sentem-se seguras, protegidas. Por vezes é só o indicador ou as costas dos dedos ou da mão. 

Repare se o seu filho leva as mãos à boca quando tem medo ou se assusta com alguma coisa.

Estas crianças vão ao dentista e ficam muitas vezes rotuladas como mal comportadas, não colaborantes ou ansiosas. 

Para mim não há crianças mal comportadas no dentista. Não estão é a portar-se como os adultos querem e isso cria imediatamente frustração no adulto que quer ver o dente tratado rapidamente. E é mais fácil dizer que a criança é mal comportada do que adaptarmo-nos às suas necessidades.

As crianças sensitivas precisam de 3 coisas: tempo, tempo, tempo. 

Afinal precisam de mais uma: a verdade. Mas isso todas precisam. A todas deve-se explicar o que vai acontecer e porquê, mas as sensitivas precisam de saber o que vão SENTIR.

O simples ruído do aspirador a funcionar ou a vibração da escova rotatória na sua intimidade (a boca) provocam no sensitivo uma sensação muito semelhante à dor. E reage exatamente como se estivesse a doer imenso. Gritam e choram com algo que para os outros "afinal só faz uma impressão".

Caír em rótulos como "criança mimada" ou "reação exagerada" não ajudam nada. Em bom madeirense: que baboseira!!!! Vai sentir-se incompreendida e ainda vai colaborar menos. 



Precisa-se urgente ensinar as nossas crianças a reagir às emoções. Saber que vai sentir uma grande impressão quando as máquinas começarem a funcionar, quase como se sentisse uma dor. E que as impressões se conseguem controlar com paciência, pausas e constatações: "parece-me que isto está a provocar-te uma impressão enorme, mas estás a conseguir deixar-me fazer o meu trabalho. Obrigada!"


Dá trabalho. Mas vale a pena.







catarina cortez | ordontopediatria






quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tooth SOS a nova aplicação obrigatória para Pais e Educadores

A IADT - International Association of Dental Traumatology lançou em Abril uma nova aplicação de nome Tooth SOS.


Está disponível para IOS e Android, é gratuita e tem tudo o que é necessário saber sobre traumatismos dentários. Está em inglês (americano). Recomendo a sua leitura completa para que se possa familiarizar com os termos em inglês, e procurar a tradução com calma. Assim, se algo lhe acontecer pode agir rapidamente e não perderá tempo a tentar traduzir sob pressão. As probabilidades de tomar a decisão correta aumentam exponencialmente quanto mais preparado estiver.



À partida o utilizador opta se quer entrar como profissional de saúde dentária ou como "paciente". Ao entrar como paciente tem novamente duas opções: "sofri trauma dentário" ou "como prevenir o trauma dentário".


Se sofreu um traumatismo dentário ou está com alguém que tenha sofrido está disponível uma lista completa de todos os tipos de acidentes, com fotografias de alta qualidade, se é urgente ou não, o que deve fazer e como deve transportar o paciente (e os fragmentos de dente/s) até ao consultório dentário. Tem todas as guidelines para acidentes com dentes definitivos e dentição de leite.










Na secção "prevenção" tem excelentes imagens de todos os tipos de protetores bucais para desportistas, classificados de acordo com a sua eficácia e preço mais ou menos acessível. Tem até uma lista de todos os desportos em que a IADT recomenda o uso obrigatório de algum tipo de protetor bucal/dentário. Assustou-se? Agora que já sabe, mãos à obra.















Se entrar como Médico Dentista tem uma panóplia de artigos científicos e guidelines de leitura obrigatória.

Pode também saber um pouco mais sobre formação na área da Traumatologia Dentária, cursos e congressos da IADT e até a opção de fazer um Fellowship in Dental Traumatology tornando-se Fellow of the International Association od Dental Traumatology enquanto assim desejar.


                                                       


Seguramente uma aplicação obrigatória para toda a população.














catarina cortez | odontopediatria