Há seres humanos com sensibilidade emocional aumentada. Esta condição foi oficialmente identificada em 1991 pela psicóloga Elaine Aron.
Elaine descobriu que 15 a 20% da população pode ser classificada como sensitiva. Chegou a propor que os cérebros destas pessoas processam informações sensoriais e regulam as emoções de forma diferente.
Os sensitivos, ou empatas, são mais sensíveis aos sons, às sensações corporais e às texturas. Sentem-se verdadeiramente incomodados quando têm que se expor fisicamente. Os sensitivos detestam o médico e o dentista! E apanham rapidamente quem lhes tenta "camuflar" a verdade.
A boca é algo muito íntimo para o ser humano. Não será por acaso que é a primeira forma utilizada pelo bebé para explorar o mundo que o rodeia. Desde que nasce até aos primeiros anos de vida a criança lê o mundo através da sua boca, testando tudo com os lábios, os dentes e a língua. Todos os objetos em seu redor são imediatamente dirigidos à cavidade oral, como que se precisassem de passar pela aprovação das papilas gustativas e das terminações nervosas linguais.
As crianças sensitivas passam o tempo com um dedo ou a mão na boca. E geralmente não é para chuchar. Sentem-se seguras, protegidas. Por vezes é só o indicador ou as costas dos dedos ou da mão.
Repare se o seu filho leva as mãos à boca quando tem medo ou se assusta com alguma coisa.
Estas crianças vão ao dentista e ficam muitas vezes rotuladas como mal comportadas, não colaborantes ou ansiosas.
Para mim não há crianças mal comportadas no dentista. Não estão é a portar-se como os adultos querem e isso cria imediatamente frustração no adulto que quer ver o dente tratado rapidamente. E é mais fácil dizer que a criança é mal comportada do que adaptarmo-nos às suas necessidades.
As crianças sensitivas precisam de 3 coisas: tempo, tempo, tempo.
Afinal precisam de mais uma: a verdade. Mas isso todas precisam. A todas deve-se explicar o que vai acontecer e porquê, mas as sensitivas precisam de saber o que vão SENTIR.
O simples ruído do aspirador a funcionar ou a vibração da escova rotatória na sua intimidade (a boca) provocam no sensitivo uma sensação muito semelhante à dor. E reage exatamente como se estivesse a doer imenso. Gritam e choram com algo que para os outros "afinal só faz uma impressão".
Caír em rótulos como "criança mimada" ou "reação exagerada" não ajudam nada. Em bom madeirense: que baboseira!!!! Vai sentir-se incompreendida e ainda vai colaborar menos.
Precisa-se urgente ensinar as nossas crianças a reagir às emoções. Saber que vai sentir uma grande impressão quando as máquinas começarem a funcionar, quase como se sentisse uma dor. E que as impressões se conseguem controlar com paciência, pausas e constatações: "parece-me que isto está a provocar-te uma impressão enorme, mas estás a conseguir deixar-me fazer o meu trabalho. Obrigada!"
Dá trabalho. Mas vale a pena.
catarina cortez | ordontopediatria